XVI. Porque Dia da Mulher é todo dia! Madame Elisabeth Roudinesco: Onde Sofremos?

Dona de um agudo espírito crítico para com a psicanálise tal como a conhecemos hoje, e um profundo conhecimento histórico, Madame Roudinesco desenvolve um texto claro, objetivo e contundente.

Praticante da psicanálise por longo tempo, doida por uma boa viagem e fácil de criar amizades e fãs, a Dra. Elisabeth Roudinesco (pesquisadora da Universidade Paris VII) pergunta a si mesma: “… por que, após cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise era tão violentamente atacada hoje em dia pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiriam as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma.”

A autora argumenta e está consciente de que “A psicanálise atesta um avanço da civilização sobre a barbárie.” Daí seu empenho na afirmação de que o homem é livre por sua fala.

Somos profundamente afetados por nossa época.

(ROUDINESCO, Elisabeth Por que a psicanálise, tradução Vera Ribeiro, Rio de Janeiro, 2000. Tradução de Pourquoi la psychanalyse?, Paris, Librairie Arthème Fayard, 1999)

“É justamente a existência do sujeito que determina não somente as prescrições psicofarmacológicas atuais, mas também os comportamentos ligados ao sofrimento psíquico. Cada paciente é tratado como um ser anônimo, pertencente a uma totalidade orgânica. Imerso numa massa em que todos são criados à imagem de um clone, ele vê ser-lhe receitada a mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. Ao mesmo tempo, no entanto, busca outra saída para seu infortúnio. De um lado, entrega-se à medicina científica, e de outro, aspira a uma terapia que julga mais apropriada para o reconhecimento de sua identidade. Assim, perde-se no labirinto das medicinas paralelas.

É por isso que assistimos, nas sociedades ocidentais, a um crescimento inacreditável do mundinho dos curandeiros, dos feiticeiros, dos videntes e dos magnetizadores. Frente ao cientificismo erigido em religião e diante das ciências cognitivas, que valorizam o homem-máquina em detrimento do homem desejante, vemos florescer, em contrapartida, toda sorte de práticas, ora surgidas da pré-história do freudismo, ora de uma concepção ocultista do corpo e da mente: magnetismo, sofrologia, naturopatia, iridologia, auriculoterapia, energética transpessoal, sugestologia, mediunidade etc. Ao contrário do que se poderia supor, essas práticas seduzem mais a classe média — funcionários, profissionais liberais e executivos — do que os meios populares, ainda apegados, apesar da precariedade da vida social, a uma concepção republicana da medicina científica.” Pg. 14-15.

Confira também...

Primeira aproximação da clínica de dependentes de drogas ilícitas. Série história/memórias GREF[1] um breve relato: onde...
Há pessoas que são pontos de reabastecimento de nós mesmas. Nelas encontramos o que mais...
É com imensa alegria que a Representação da OPAS/OMS no Brasil acaba de lançar a...