Madame Elisabeth Roudinesco cria um interessante painel seletivo de filósofos franceses, os quais, em alguma medida mantiveram um profícuo diálogo com a psicanálise (aqui, no caso, com a psicanálise francesa e Lacan).
A intimidade da Doutora Roudinesco com a filosofia e a psicanálise do século XX permite voos inesperados e a abertura para novas posições epistemológicas.
“Vivemos uma época muito estranha. Os grandes acontecimentos, os grandes homens, os grandes pensamentos, as grandes virtudes não param de ser comemorados: o ano Rimbaud, o ano Hugo, o ano Jules Verne. E, entretanto, nunca a revisão dos fundamentos de cada disciplina, de cada doutrina, de cada aventura emancipadora foi tão valorizada. O feminismo, o socialismo e a psicanálise são violentamente repelidos, e Freud, Marx ou Nietzsche, declarados mortos, assim como toda forma de crítica da norma. Fala-se apenas de direito de inventário ou de avaliação, como se a distância necessária a todo procedimento científico se resumisse a uma vasta contabilidade das coisas e dos homens, ou antes dos homens transformados em coisas.
Não penso apenas no negacionismo, que sabemos banido da comunidade dos historiadores, mas que continua a agir subterraneamente, penso antes nesses revisionismos ordinários que tendem, por exemplo, a colocar Vichy e a Resistência em pé de igualdade, em nome da “necessária” relativização do heroísmo e para decodificar a ideia de rebelião. Ou, ainda, aquele que consiste, por exemplo, numa astuciosa desvirtuação de textos, em fazer de Salvador Allende um racista, um anti-semita e um eugenista, sob pretexto de denunciar os pretensos mitos fundadores da história mundial do socialismo.” Pg. 7-8.