Cap. 1. Estar jurado
Há tempos Neco está desaparecido; só descobrimos depois que ele
estava jurado.
Cap. 2. “Mais demorado que tatu na toca”
Um dia chegou um cartão postal, sem selo, de uma cidade de uma província chinesa desconhecida; atrás aparecia grafada uma frase misteriosa:
“mais demorado que tatu na toca”.
Cap. 3. “Mais vagaroso que carro de boi em repecho”
Noutro dia, chegou outro cartão, que só podia ser do Neco, ainda desaparecido! Desta vez, de uma cidadela peruana; atrás outra frase estranha:
“mais vagaroso que carro de boi em repecho”.
Cap. 4. Pau de arara
Um dia apareceu embaixo da porta da casa da mãe de Neco, um bilhetinho, cada vez mais misterioso: “Nossa cabrita, tão catita, tão bonita/ depois de tanta desdita havia feito uma opção/ se casaria com outra linda cabrita, Hah,/ que até bem pouco namorara o meu irmão,/
o pau de arara de meu pai o que diria disso,/ que ela me disse?” Despedida de solteira, Gilberto Gil.
Cap.5. Encriptadas
O que Neco queria dizer com aqueles cartões misteriosos? Quem conseguiria desvendar suas mensagens
encriptadas?
Cap. 6. Idiomáticas
Não houve jeito, foi preciso recorrer ao Professor, que deu à família de Neco uma primeira pista: ele está usando expressões
idiomáticas regionais!
Cap. 7. Desmentidura
Logo que sua fuga teve início Neco conheceu na maca ao lado um escrevinhador de cartas sob demanda. Neco precisou passar algumas horas no hospital, depois de uma
desmentidura. Uma amizade se iniciou ali, fruto de uma mútua e profunda simpatia.
Cap. 8. Patrão
Quem será Neco? Um UD que não conseguiu pagar uma dívida com o tráfico? Um adolescente de periferia que pisou na bola com o
patrão local? Um membro de uma equipe de RD que teve uma altercação com quem não devia ter se metido? Ou ainda, um militante de movimento social de direitos humanos?
Cap. 9. Despinguelado
O tempo foi passando e preocupação de D. Adélia, mãe de Neco, crescendo. Os boatos proliferavam; uns acreditavam tê-lo visto atravessando uma avenida, todo
despinguelado; outros se preparavam para a encomenda da missa, temerosos do pior desfecho.
Cap. 10. Caboclinho
Noutro dia, chegou um molecote esbaforido para lhe trazer a notícia -infelizmente não confirmada depois- de que a madrinha do Neco tinha visto um rapaz ensaiando o
Caboclinho, que era a cara dele!
Cap. 11. Cera de santíssimo
D. Adélia, dia sim dia não, foi adquirindo aquele aspecto de
cera de santíssimo, pois quase não saia de casa, perdendo sua alegria natural.
Cap. 12. Bolodório
Adélia sabia que sua vida tinha se transformado novamente, afinal por muito tempo desde que saíra de sua terra levara uma vida modesta e discreta; agora via-se envolvida num
bolodório em torno do paradeiro de seu filho.
Cap. 13. Boiota
Seu filho teria de fato se envolvido em algo ilegal? Ou fora vítima de alguma retaliação dos inimigos de seu pai? Seu desaparecimento continuava sendo um mistério; mas mantinha a esperança de que ele estaria bem onde quer que estivesse, afinal ele podia ser muitas coisas, mas
boiota, certamente não.
Cap. 14. Bolódromo
Neco estava preparado para prestar o vestibular. Ela fizera tudo para que ele pudesse estudar nas melhores escolas a seu alcance. Mesmo que já o tenha encontrado num
bolódromo improvisado, dando um pega, não havia qualquer indício de que ele se envolvera em maiores encrencas, exceto pelo seu desaparecimento.
Cap. 15. Boleiro
Aos poucos algo foi se formando em sua mente…. uma correlação entre seu passado silenciado e o silêncio do paradeiro de Neco. Será que ele lembrava daquela viagem onde foram
boleiros por dois dias? Mas ele era tão pequenino, nem completara dois anos de vida!!
Cap. 16. Bater de testa
Estaria ele encenando aquele período misterioso de sua vida? Como ele poderia saber de algo que ele não viveu diretamente? Não se passara tempo suficiente desde seu desaparecimento? Teria sido tão mais fácil se ele tivesse
batido de testa com Adélia. Sumir deste jeito!!
Cap. 17. Catimbó
Neco mal sabia o que o levara a partir tão repentinamente. Uma noite teve um sonho confuso, onde imagens escuras surgiram, acompanhadas por ruídos de gritos e banhados por um cheiro ferroso que apesar de não ser capaz de reconhecer sua origem, muito o inquietou. Não seria capaz de reproduzir qualquer relato que reunisse estes fragmentos em uma história. No entanto uma palavra pairava no ar, piscava como que iluminada em neon:
catimbó!
Cap. 18. Estar jurado II
Depois deste sonho algo se acendeu dentro de Neco. Era preciso que ele partisse, imediatamente! Para onde? Ele não tinha certeza, mas era preciso voltar para algum lugar de onde ele, aparentemente partira! Mas como fazer isso, sem despertar suspeitas? Era preciso que seu retorno ocorresse de maneira completamente anônima. Espalhar o boato de
‘estar jurado’ ofereceria o motivo para seu justificado desaparecimento.
Cap. 19. E tchau e bença
Começar de novo, sem passado, exceto o nome de batismo. Neco, ninguém conhecia por lá. Calouro de uma faculdade pela qual sonhara desde sempre: arqueologia. De onde tirara isso, nunca soube; mas sempre fora fascinado pela figura do pesquisador de campo que remexe até achar as ruínas, reúne seus caquinhos e reconstrói uma civilização inteira! Depois disso,
e tchau e bença!
Cap. 20. Sincronicidade
Enquanto deliciava-se com as aulas pela manhã, as noites se tornavam cada vez mais tumultuadas. As imagens, o cheiro estranho, e os ruídos angustiantes se repetiam noite após noite. Aconselhado pelo serviço de atenção ao aluno, procurou um psicanalista. Como sempre as leituras sempre acompanhavam suas explorações, descobriu que Freud também usara da metáfora da investigação arqueológica para desvendar o inconsciente! Seria uma
sincronicidade? As duas coisas ocorrendo no mesmo ano?
Cap. 21. Afã
Ao cabo de alguns meses, alguma coisa se passou com Neco! Os sonhos foram cedendo e no lugar deles um
afã pela escrita surgiu. Isso lhe era completamente novo: uma febre de criar uma história que parecia dialogar com as matérias que faziam de suas manhãs um deleite, por ter encontrado algo desde sempre desejado: um conhecido não pensado.
Cap. 22. Sequioso
Sem que soubesse o porquê, Neco começou a sonhar repetidamente com sua mãe. Com a presença dela no sonho as imagens, sons e cheiros começaram a ganhar formas identificáveis. Foi quando descobriu a história reconstruída de um faraó que apesar de todo seu poder foi brutalmente assassinado por inimigos de sua dinastia.
Sequiosos por suas terras, não hesitaram em executá-lo diante dos olhos de seu único filho.
Cap. 23. Estudação
Adélia acordou aquela manhã e encontrou uma mensagem de seu filho. Ainda trêmula, liga para o número que ele deixou. E, surpresa, descobriu que ele estava na cidade onde haviam permanecido por algumas semanas antes de chegarem a seu destino final: onde Adélia ainda vive e Neco foi criado. Desta primeira conversa, regada a uma forte emoção a única lembrança que permaneceu foi a presença da
estudação tão seriamente abraçada por seu filho.
Cap. 24. Conhecido não pensado
Após várias cartas e telefonemas trocados, Neco foi capaz de integrar e validar aspectos da história criada nos meses que antecederam o momento de reencontrar sua mãe, Adélia. A história trágica que antecedeu a viagem rumo a uma vida mais segura, pode finalmente tornar-se conhecida. Adélia encontrou a forma de ajudar Neco a apropriar-se desta história. O trabalho propiciado pelo encontro da psicanálise e da arqueologia rendeu uma vocação, o reconhecimento de sua capacidade de sonhar e o florescimento da força para ir atrás de seus sonhos.
O conhecido não pensado serviu de guia para este desenvolvimento.