IV. Porque Dia da Mulher é todo dia! – A feminização cultural

Luzia Margareth Rago
 
O mais belo livro da teoria, da vida e da aventura dos feminismos. Autora nascida em berço libertário na exigência do rigor e na liberdade. Uma severa guinada crítica para com a teoria e prática vividas nos textos marxianos.
 
 
Chile, 2019, jovens mulheres cantam, gesticulam, carnavalizam e justapõem denúncias e pautas internacionais nas redes performáticas. Tais manifestações podem ser vistas como tendo afinidades eletivas com o pensamento e percurso de Margareth.
(Rago, Margareth. A aventura de contar-se. Feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas, Ed. UNICAMP, 2013.)
“A crítica feminista foi – e tem sido – radical ao buscar a liberação das formas de sujeição impostas às mulheres pelo contrato sexual e pela cultura de massas, e, se num primeiro momento o corpo foi negado ou negligenciado como estratégia dessa recusa das normatizações burguesas, desde os anos 1980 percebem-se uma mutação nessas atitudes e uma busca de ressignificação do feminino. De um lugar estigmatizado e inferiorizado, destituído de historicidade e excluído do mundo da natureza, associado à ingenuidade, ao romantismo e à pureza, o feminino foi recriado social, cultural e historicamente pelas próprias mulheres. A cultura feminina, nessa direção, foi repensada em sua importância, redescoberta em sua novidade, revalorizada em suas possibilidades de contribuição, antes ignoradas e subestimadas.  
 
Em nossos dias, poucos duvidam da profunda transformação cultural provocada pela maior inserção das mulheres na vida pública. É impossível não perceber o processo de feminização cultural que temos vivenciado, isto é, a maneira pela qual as ideias, os temas, os valores, as questões, as atitudes, as práticas e os comportamentos femininos foram incorporados na cultura masculina, considerada objetiva, racional e realista, como um resultado muito positivo das pressões históricas do feminismo, num mundão que reconheceu a falência dos modos falocêntricos de pensar e agir.” p. 25.

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