II. Porque Dia da Mulher é todo dia!

Heleieth Safiotti
 
Da sala do seu amplo apartamento de cobertura na Praça da República (com sininho para chamar a empregada…) a intelectual HS trata pela primeira vez no Brasil das questões do feminino. Ela fez parte da primeira geração da recém formada Escola Sociológica Paulista.

(Imagem: Cartão postal Praça da República década de 50)
Sua obra contrasta com a limitação das análises de então que não mencionavam o papel da mulher. O diálogo crítico com os seus pares universitários era sustentado pelo sólido arcabouço da obra marxiana. Autora de um trabalho denso em 1979 cujo fôlego pode ser aquilatado pela exposição de fatos e conceitos de impressionante atualidade.

(Saffioti, Heleieth Iara Bongiovani. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis, Vozes, 1976.)
“Com efeito, enquanto nas sociedades pré-capitalistas a etnia e o sexo aparecem como fundamento da inferioridade social do escravo, do servo e da mulher, nas sociedades competitivas os caracteres naturais perdem, aparentemente, à proporção em que processa o desenvolvimento social e econômico, a feição de marcas sociais que operariam como fatores de perturbação da ordem competitiva, racionalmente organizada. Assim, todos os homens e todas as mulheres são livres para adquirir todo e qualquer status que a sociedade contenha, desde que, para tanto, apresentem as qualificações exigidas. Sob esta camuflagem, entretanto, é possível discernir o como e o quanto a filiação étnica e a pertinência a uma categoria de sexo representam variáveis favorecedoras ou limitativas dos diversos grupos étnicos e dos elementos de um e de outro sexo. 
 
[…] Assim a própria sociedade acaba por elaborar e reelaborar de tal sorte os caracteres de ordem natural, que ela própria seria incapaz de discernir onde terminam as razões que a natureza do organismo feminino impõe à permanência da mulher no lar e onde têm início os fundamentos sociais do alijamento de grandes contingentes femininos da estrutura de classes. Esta ambivalência não atua, entretanto, para os seres comuns, no sentido de levá-los à descoberta dos requisitos estruturais e funcionais do sistema capitalista de produção e, portanto, da marginalização da mulher da estrutura de classes.” p. 370

Confira também...

Raízes francesas e trabalho de rua. Les Halles, Paris, Praça da Sé/Luz, São Paulo. Diva...
Chicago, julho de 1994 Nota: de quantas autoridades precisamos para fazer um acordo José respondendo...