Mary Wollstonecraft
Foi uma escritora de romances, ensaios e panfletos na melhor tradição do Iluminismo Inglês do final do século XVIII. Nos dias de hoje, tranquilamente a chamaríamos de agitadora cultural.
Ela sai de casa aos 19 anos de idade para livrar-se da violência do seu pai alcoólatra e da insuportável pusilanimidade de sua mãe. Torna-se então uma educadora na posição de governanta, dama de companhia além de ter sido fundadora de duas escolas para crianças de breve existência. Assiste às Revoluções Americana e Francesa. Com escrita ágil, crítica, libertária e ativa afirma posições e contradições.
O livro aqui sugerido contou com um importante trabalho editorial. A modéstia considerada em toda a sua amplitude, e não como virtude sexual.
“Modéstia! Fruto sagrado da sensibilidade e da razão! Verdadeira sutileza da mente! Proponho-me investigar sem censura tua natureza e seguir até teu refúgio o suave encanto que, ao adoçar cada traço áspero do caráter, torna adorável o que, de outro modo, inspiraria somente admiração fria! Tu, que suavizas as rugas da sabedoria e abrandas o tom das mais sublimes virtudes até que se transformem em benevolência; tu, que espalhas a nuvem etérea ao redor do amor e intensificas toda beleza que ela parcialmente encobre, avivando as doçuras esquivas que cativam o coração e deleitam os sentidos –module para mim a linguagem da razão persuasiva, até que levante meu sexo do leito de flores, onde indolentemente dorme o sono da vida!
Falando da associação de nossas ideias, notei duas maneiras distintas; e ao definir modéstia, parece-me igualmente apropriado distinguir a pureza da mente, que é a consequência da castidade, da simplicidade de caráter que nos leva a formar uma opinião justa de nós mesmos, igualmente distante da vaidade ou da presunção, embora de modo nenhum incompatível com a consciência elevada de nossa própria dignidade. Neste último significado do termo, a modéstia é aquela sobriedade da mente que ensina um homem a não se valorizar mais do que deveria e diferencia-se da humildade, porque esta é uma espécie de autodegradação.” p. 159.