(Imagem: Anchieta, Isabelle. Imagens da mulher no Ocidente Moderno 1: Bruxas e tupinambás canibais. São Paulo, EDUSP, 2020)
No primeiro volume, a autora se dedica a investigar a construção do estereótipo da bruxa. Os elos associativos, que sua exaustiva pesquisa gerou, sugerem que há uma aproximação entre a circulação na Europa de imagens produzidas no Brasil, em parte pelos frutos da convivência forçada entre as tupinambás canibais do pintor e desenhista Hans Staden, apresentado como uma segunda geração de viajantes, igualmente responsável pela criação da imagem do Brasil. Citando Novais (1999, p. 13, apud Anchieta, 2020, p. 109): “Se o Brasil de Hans Staden não existia, é perfeitamente legítimo perguntar em que medida ele contribuiu para que viesse a existir”.
Aqui nos permitimos escolher um tópico que consideramos pertinente à guisa de finalização desta primeira e rápida aproximação desta bela obra. Se originalmente o termo estereótipo, foi criado para nomear uma técnica tipográfica francesa em 1795, distinta daquela criada por Gutemberg, rapidamente ela passou a ser associada a ideia de impressão de má qualidade (Anchieta, 2020, p. 78). Apenas em 1922, o termo ganhou sua significação atual: “metáfora das relações sociais, como sendo imagens mentais dos outros, das situações e até de nós mesmos. Formas familiares de classificar, ordenar e fixar o mundo em imagens”. E, mais adiante: “não vemos o que nossos olhos não estão acostumados a levar em conta”, pois segundo ele, “nós definimos primeiro e depois vemos” (Lippman, 2008, p. 115; apud Anchieta, 2020, p. 78). Anchieta complementa: “para isso acontecer, o imaginário coletivo precisa ser alimentado com a repetição regular das imagens”. (Anchieta, 2020, p. 78).
O percurso deste primeiro livro nos mostra como o estereótipo da bruxa foi se constituindo através do séculos, até mesmo incorporando aspectos que a ele se agregou, como as imagens criadas a partir das nossas tupinambás canibais!
Com este pequeno artigo esperamos que nossas leitoras e leitores possam se sentir instigados, como nós, a mergulhar nesta viagem através dos séculos e se deleitar com as descobertas e construções sobre as imagens da mulher ocidental moderna.
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Referências
Anchieta, Isabelle. Imagens da mulher no Ocidente Moderno 1: Bruxas e tupinambás canibais. São Paulo, EDUSP, 2020.
Arendt, Hanna. A vida do espírito. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010.
Lippman, Walter. Opinião Pública. Petrópolis, Vozes, 2008.
Novais, Fernando A. O Brasil de Hans Staden. In: Staden, Hans. Hans Staden: Primeiros Registros Escritos Ilustrados sobre o Brasil e seus Habitantes [1557]. São Paulo, Terceiro Nome, 1999.