Diva Reale¹
Maria de Lurdes Zemel²
Série: A clínica em tempos de fim de Guerra às drogas
O Barato no Divã e ABRAMD-clínica vão realizar em conjunto a apresentação de seis trabalhos que compuseram duas mesas: “Os sentidos da compulsão” e “A redução de danos na clínica”.
Ambas as mesas fizeram parte da programação do VII Congresso Internacional da ABRAMD, “Política de drogas, autonomia e cuidados”, ocorrido em Curitiba, em junho de 2019.
Os sentidos da compulsão
Nesta mesa organizada pela ABRAMD-clínica, serão trazidos os trabalhos de Diva Reale, Silva Brasiliano, Valéria Lacks; sob a coordenação de Karina Mesquita. Convidamos Marcelo Soares da Cruz, psicanalista, do Instituto Sedes Sapientiae, membro d’O Barato no Divã para comentar estes trabalhos.
O termo compulsão tem sido usado para indicar um espectro de sintomas presentes em diferentes transtornos como aqueles relacionados ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas, ao sexo e pornografia, além de transtornos alimentares, de jogo patológico e gaming – jogos eletrônicos de imersão, individuais ou coletivos, online, dentre outros.
Atentos à questão de nomenclatura e conceitual além dos aspectos clínicos foi abordada também a diferenciação entre transtornos do impulso e transtornos onde se evidenciam de forma predominante os sintomas compulsivos.
A compulsão ocupa um lugar central nas apresentações psicopatológicas da atualidade. Para além dos mecanismos neuroquímicos envolvidos no comportamento compulsivo e da caracterização psiquiátrica há uma compreensão da psicodinâmica envolvida, que permite aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre esse tema. Encontramos em campos de conhecimento distintos como na psiquiatria e na psicanálise um esforço para diferenciar a natureza compulsiva ou impulsiva de comportamentos de repetição. Na psiquiatria, a diferenciação entre atos impulsivos e atos compulsivos nos remete à reflexão sobre a dissociação entre a experiencia de prazer e o desejo imperioso de consumir drogas. Esta mesa reúne trabalhos clínicos envolvendo situações múltiplas onde a compulsão se manifesta em distintas configurações. O objetivo é trazer uma contribuição para a elucidação da relação entre a compulsão do uso de álcool e outras drogas e diferentes manifestações como aquelas encontradas em determinados transtornos alimentares, compulsão por sexo/pornografia, instabilidade de gênero, indicativos de falhas precoces na constituição de si. Através de vinhetas e casos clínicos buscaremos explorar como esses comportamentos compulsivos se relacionam entre si, podendo ser referidos como fazendo parte do grupo de configurações descritas como falhas ou fraturas narcísicas. A busca para sanar tais falhas pode ser a chave para a compreensão do estabelecimento de compulsões em pessoas que experimentam uma impossibilidade do encontro de si com o outro numa relação mutuamente enriquecedora.
A redução de danos na clínica
O percurso de 30 anos da política de Redução de Danos no Brasil trouxe novas leituras sobre a possibilidade de autorregulação da pessoa que faz uso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas. A inclusão da Redução de Danos pode viabilizar a diminuição de vulnerabilidade para o usuário: desde a elaboração do significado do uso em sua vida, até a preservação da própria vida.
Este trabalho pretende contribuir com aspectos clínicos sob a luz da Psicanálise no que tange à prática da redução de danos em variadas instancias e momentos de construção. Contextualizando a história da Redução de Danos para chegar na atualidade da autorregulação da pessoa que faz uso de substâncias psicoativas, diferenciando queixa e demanda no trabalho de Redução de Danos, bem como a formulação de estratégias clínicas que abarquem condutas e situações adversas com usuários no território. E ainda, o que pode ser produzido em termos de autonomia, preservação e autorregulação de consumo a partir de uma escuta comprometida com as demandas internas do sujeito, ou seja, suas reais possibilidades e necessidades de uso. Assim, propondo um lugar diferenciado ao profissional à frente da demanda do uso de substâncias psicoativas, não mais como o regulador da abstinência, mas sim como o acolhedor da demanda real do sujeito, propondo o debate de suas necessidades e riscos, sempre visando o constructo de sua autonomia e consequente autorregulação.
Sob a coordenação de Maria de Lurdes Zemel, esta mesa será composta pelos trabalhos apresentados por: Karina Mesquita, Celi Cavallari e Rodrigo Alencar. Os comentários serão da Vera Da Ros, uma precursora no assunto.
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¹Psiquiatra, psicanalista, coordenadora d’O Barato no Divã, membro-fundadora da ABRAMD-clinica, coordenadora “Seminários clínicos: A clínica em tempo de fim de Guerra às Drogas”, Instituto Sedes Sapientiae.
²Psicanalista da SBPSP, coordenadora da ABRAMD-clínica, Intercambiante.
(Imagem: “The Triumph of Bacchus” de Diego Velázquez)